terça-feira, maio 15

Cinema Paraíso


Tinha um riso contido. Engolia as gargalhadas no pudor de quem tem vergonha de estar feliz. O riso dela era pouco mais do que um sorriso de lábios cerrados e um arquear das sobrancelhas amareladas. Os olhos claros, escondidos por detrás das lentes míopes reprovavam as gargalhadas soltas e claras da nora.  Levantava-os , em tom de reprovação, do livro que tinha sempre sobre a manta que lhe cobria os joelhos retorcidos pelas artroses. Depois quando o silêncio da compostura voltava sala onde moravam os sofás de veludo malva, baixava de novo os olhos sobre as letras miúdas que corriam no papel amarelado e seco do livro.  Passava os dias naquela cadeira de  verga, com os remates desmanchados pelo tempo lendo os livros que já lera e vendo filmes A cores, porque os a preto e branco lhe pareciam desbotados de tempo e interesse. O filho trazia-os  todas as sextas feiras do clube de vídeo ao lado do emprego. Um filme e um cartucho com meia dúzia de suspiros cor de rosa. Gostava  especialmente das histórias de amor. Das mulheres de cabeça inclinada,  tronco arqueado para trás e lábios semi-abertos. Dos rostos étereos, filtrados pelas meias de nylon.  E quase sorria, dois instantes antes do final. Mas os lábios cerravam-se e ela ficava na cadeira de verga, limpado os óculos e dizendo, foi muito lindo. Não há nada mais lindo que um filme de amor. Até que chegou aquele do miúdo italiano e do homem gordo e feio, que passava filmes em bobines. Que deixou em herança, aos miúdo dos dentes tortos, todas as cenas cortadas dos beijos. Ela sentada na sua cadeira de verga, primeiro sentiu-se arrepiar, depois os lábios franzidos e cerrados comoveram-se e teve de levar a mão à boca para esconder o sorriso que se antecipou às lagrimas que ficaram presas nos cantos dos olhos.

Suspiros de morango


4 claras
8 colheres de sopa de açúcar
250g de morangos
2 ml de água
100g de açúcar
1 colher de chá de maisena
1 colher de chá de vinagre branco

Leve os morangos  cortados em pedaços pequenos, com a água e os 100g açúcar ao lume. Deixe ferver em lume brando por 15 minutos, coe e reserve o xarope e deixe arrefecer completamente.
Bata as claras em castelos, junte as 8 colheres de sopa de açúcar e bata até obter uma massa consistente. Junte o xarope, a maisena e o vinagre e bata mais um pouco.
Com um saco de pasteleiro, deite pequenas porções de suspiro num tabuleiro forrado com papel vegetal e leve a forno pré-aquecido a 100º durante cerca de uma hora.


Convidei para jantar  o realizador Giuseppe Tornatore, e o seu filme Cinema Paradiso. Esta história de ler e de comer foi integrada na 4ª edição do Desafio "Convidei para Jantar", sendo a anfitriã desta edição a Pami Sami do Blogue Menu Verde.

8 comentários:

Luis Eme disse...

e convidaste muito bem, Cristina...

beijos doces

Pami Sami disse...

Olá Cristina! Estava com curiosidade por saber quem irias escolher... Os teus textos deixam-nos sempre a suspirar, por isso haveria lá melhor forma para receber este teu convidado especial?...
Dele lembro-me apenas do 'Malena', mas fiquei com vontade de ver mais!
Bem haja pela tua bonita participação!

anasbageri disse...

Cristina,
Também estava cheia de curiosidade e de facto o teu convidado reflecte um pouco a ideia que faço dos teus gostos.
É um filme belíssimo já o vi muitas vezes.

beijinhos e obrigada pela participação.

Menina Marota disse...

Com essa ementa preferia ter sido eu a convidada! (risos)

Vou levar a receita comigo! :-)))

Grata pela partilha

Isabel disse...

Olá
Acabei de conhecer este blog que adorei. Já o estou seguindo para não perder as novidades.
Bjs

De cozinha em cozinha disse...

Adorei esse filme. Uma ternura do principio ao fim, então aquela cena final da pelicula de beijos...Até suspiro... :)
Beijinhos

Blondewithaphd disse...

Bom... por esse filme também eu faria uns quantos convites;)

Mar Arável disse...

Valeu a pena